Esta estratégia, surgida em meados dos anos 1970 através da congênere americana Southwest Airlines, propagou-se com extrema rapidez pelos diversos continentes. Sua visão, missão, mantra e obsessão, estão no corte de custos, por mais incomuns que possam parecer a princípio.
Em nome de preços baixos, aprendemos a fazer check-in, carregar malas, contorcer-nos em espaços exíguos e degustar barras de cereais. Áureos tempos de mordomias, serviço de bordo, lanches quentes, refeições saborosas, jornais do dia e lenços umedecidos.
Cada vez mais raros, podem ser encontrados nas classes executivas das companhias sobreviventes. Varig, Transbrasil e Vasp, ex-proprietárias da ponte-aérea, sucumbiram-se aos novos tempos de mercado desregulamentado e de baixas tarifas – base da vantagem competitiva de empresas como Gol, Web Jet e mais recentemente, a Azul.
Vejamos como funciona a mentalidade de uma companhia com foco em custos. Ao solicitar que os passageiros façam o check-in, diminuem a quantidade de funcionários necessários nos balcões de atendimento. Oferecer barras de cereais ao invés de refeições quentes reduz os custos logísticos com serviços terceirizados de catering e o peso em vôo, minimizando o consumo de combustível. Solicitar que os passageiros joguem o lixo gerado antes da aterrissagem evita os custos com limpeza e antecipa a próxima decolagem, abreviando o tempo em solo. Avião parado na pista é sinônimo de desperdício.
Completam o cenário, frotas modernas e homogêneas. Aeronaves novas e similares requerem menores custos com manutenção, estoque de peças de reposição e treinamento de pilotos. A Ryanair consegue ir além, cobrando por malas despachadas, comidas e bebidas consumidas a bordo, executando ao extremo sua doutrina. O velho ditado de que \"não existe almoço grátis\" é levado ao pé da letra.
Outro setor que se enveredou por esta estratégia foram os hotéis. Diversas redes ampliaram seu portfólio, criando marcas e soluções econômicas. Em seus saguões é comum ver hóspedes carregando malas, acessando notebooks, comprando refrigerantes em máquinas automáticas e fazendo ligações em telefones públicos. Em seus quartos, instalações espartanas somente com o necessário.
Serviços de quarto, lavanderia, áreas de lazer, piscinas, saunas e monitores podem ser encontrados em catálogos dos hotéis da rede. Conseguem, desta maneira, reduzir gastos com pessoal, manutenção e infraestrutura, principais custos deste tipo de estabelecimento. Aos marinheiros de primeira viagem sugiro cuidado, haja vista que grande parte dos serviços é considerada adicional e não obstante, realizados pelo próprio cliente – acesso à internet, café da manhã, preparo de comidas e bebidas, desde que claro, pagos antecipadamente.
Posicionados corretamente na matriz estratégica de Michael Porter como baixo custo, crescem pela disciplina e foco com que conduzem seus negócios. Oportunidades externas, tais como a crise financeira mundial, o crescimento dos países emergentes e o ingresso de novos usuários têm favorecido este tipo de negócio. Ameaças também existem em todas as direções, podendo às vezes vir de cima, como é o caso do vulcão Eyjafjallajokull.
Basta saber quem irá pagar a conta, afinal a estada em um hotel, mesmo que econômico, poderá custar diversas vezes o valor da passagem. Há o sério risco de o molho custar mais que o prato.
Autor: Marcos Morita, mestre em Administração e consultor de negócios
Fonte: Economia SC
Em nome do preço: o impacto do low cost para os consumidores
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