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Brasileiros e Bancos


Um estudo realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) indica que 39,5% dos brasileiros, o equivalente a 53 milhões de habitantes, não têm conta em banco.

Usando a palavra da moda, inclusão, esse é o universo dos que estão à espera de uma “inclusão bancária” - que para os bancos é chamada de “bancarização”.

Originalmente os bancos se propunham a guardar a riqueza financeira dos correntistas com segurança e, como remuneração, recebiam os lucros do que aplicavam desse dinheiro. Naquele momento pessoas de baixa renda não eram nada atraentes aos bancos.

Hoje os bancos cobram para guardar seu dinheiro, nada remuneram por isso e fazem de tudo para enfiar goela abaixo pacotes de benefícios que só beneficiam a eles e seus funcionários. Vendem seguros, planos de saúde, cartões de crédito, planos de aposentadoria e um produto que não se conhecia no passado e que ninguém quer comprar, mas paga mesmo assim: a tarifa. Com um punhado de novos produtos que engordam seu lucro, esse novo mercado de pessoas com renda menor passou a interessar aos bancos, seguindo o mesmo caminho do comércio, construtoras e outras empresas.

Entre outras amarras, essa é mais uma arapuca num país que se diz livre. Boa parte da população, mais exatamente todos os 60,5% dos brasileiros que têm conta em banco, imaginam que a atividade dos bancos é indispensável. Muitos destes, depois de insuflados pelas facilidades iniciais, chamadas maldosamente de “benefícios”, tornam-se escravos do poder econômico. Nas palavras de Sêneca, “O benefício não consiste no que se dá ou se faz, mas na intenção do que se dá ou faz.”

Segundo o ex-presidente da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban), Fabio Barbosa, em entrevista ao jornal O estado de S. Paulo, a bancarização e as taxas menores de juros podem ser incompatíveis. Para ele, novos clientes tomando empréstimos oferecem riscos. Pasmem: para a Petrobras ele emprestaria a 0,5% de juros e para os novos clientes cobraria 5,5%. Se avaliam o perfil antes de emprestar, onde está o risco maior e o motivo de tão grande desproporção?

O que todo brasileiro devia notar é que esses 53 milhões sobreviveram sem os bancos e nós sobrevivemos no passado sem sermos assaltados a conta-gotas por um negócio que conseguiu inverter o conceito de importância das coisas.

Está escritoem nossa Constituição (parágrafo 3o do art. 192): "As taxas de juros reais, nelas incluídas comissões e quaisquer outras remunerações direta ou indiretamente referidas à concessão de crédito, não poderão ser superiores a 12% ao ano; a cobrança acima deste limite será conceituada como crime de usura, punido, em todas as suas modalidades, nos termos que a lei determinar."

Ainda que a Constituição esteja vigente, meu banco cobra uma módica taxa de 9,66% num único mês - quase o total permitido no ano. Para que serve a Constituição? Onde estão os senhores que deveriam zelar por ela em nosso nome? O que eles dizem? Provavelmente uma frase de Millôr Fernandes: "O dinheiro não só fala, como faz muita gente calar a boca."

Felizes os brasileiros que não tem acesso aos bancos. Não estão no foco da nova versão dos Publicanos de outrora e que agem oficialmente e dentro da lei.

Carlos Alberto Pompeu de Toledo Soares é diretor da Gcapts Consultoria especializada em reestruturação empresarial - acumula mais de 20 anos de experiência nas áreas de desenvolvimento de Organizações,recursos humanos, finanças e marketing. (e-mail: gcapts@terra.com.br)

Fonte: Grupo Vervi - www.grupovervi.com.br - via BrandPress - www.brandpress.com.br
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